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15 Dicas Sobre Como Fazer Uma Boa Redação na Fuvest



Encontrei esse texto nos meus arquivos de estudo quando realizei a prova da Fuvest de 2017. Acredito ser útil para aqueles que desejam aperfeiçoar suas técnicas de redação dissertativa-argumentativa.

Finalmente, após muitos anos de estudo o sonho de entrar na Universidade de São Paulo foi concretizado e este feito não seria possível sem os conhecimentos básicos da escrita. A nota da redação é um grande passo para o ingresso nas universidades, já que muitos cursos de ingresso pelo SISU atribuem a ela peso 2 ou 3, enquanto na Fuvest sua nota é equivalente a 50% da prova de Português da 2ª fase.

Durante o ano posterguei o aprendizado em redação, como se esse conhecimento já fosse algo conquistado ao longo dos anos de Ensino Médio, assim só fui estudar redação aos noventa minutos do segundo tempo, ou seja, nos últimos dois meses que antecedem a segunda fase. O que exigiu dedicação total ao seu estudo e nele aprendi algumas dicas que passarei aqui pra vocês.

O fato é que escrever é difícil, mas escrever uma redação é pura e simplesmente técnica. Não requere que você seja um gênio ou escreva a ponto de emocionar as pessoas. Você apenas precisa escrever corretamente e seguir o "script", por que afinal, uma redação é simplesmente um roteiro que se seguido corretamente joga sua nota de 600 para 900 sem muitas dificuldades, acredite!

Disponho abaixo as ideias centrais que você precisa ter antes de começar uma redação, mas isso não pode e não será aprendido sem prática, no entanto, nada adianta praticar sem ter essas ideias em mente (ao menos esse foi o meu caso), pois pratiquei durante o ano todo sem tática e minha nota não passava de 6.9, mas assim que entendi a lógica dos blocos 1000 virou uma meta possível e conquistável.

1. Pense na redação como blocos de conteúdo

Como já foi dito, uma redação é script pronto que precisa ser apenas aplicado e destrinchado de maneira corretas. Você quer tirar uma boa nota e não tem conseguido ainda, então siga esses passos, não invente! Eu demorei para entender isso, mas pense: o corretor tem muitas provas para corrigir, ele apenas segue o roteiro e espera ler um bom texto. Não ficará reparando se você escreve de uma forma nunca antes vista. Os blocos são: Introdução (1 parágrafo), Desenvolvimento (2 parágrafos) e Conclusão (1 parágrafo).

2. A introdução deve ser curta e conter três itens (periférico, tema e tese)

No primeiro vêm a sua introdução. Seja sucinto, tente não passar de quatro linhas.
Ela deve conter no início um "periférico principal", ou seja, algo que não tem relação direta com o tema de sua redação, mas você irá conduzi-lo para o tema. Pode-se falar, por exemplo, de algum momento histórico, uma notícia ou até mesmo inserir uma citação, pense antes: "Como relacionarei isso com o meu tema?".
Coloque um ponto final do seu periférico principal e prossiga declarando o tema de sua redação. O que não precisa ser feito com maestria, muitas vezes o tema já vem escrito na prova, você deve apenas o parafrasear, já que o corretor está procurando as palavras chaves e não quer perder muito tempo. Em seguida, não necessariamente em outro período, você deve incluir sua tese. Isto é: "O que penso sobre o tema?", essa é simplesmente sua opinião, pela qual você permeará durante toda a redução afim de justificar seu ponto de vista, dessa forma tome cuidado para deixá-la impessoal e para não especificá-la muito ou explicá-la, isso será feito nos parágrafos de desenvolvimento.

3. Inicie seu desenvolvimento pensando "Primeiramente..."

Sempre comece seus parágrafos de desenvolvimento pensando "Em primeiro lugar..." ou "Primeiramente..." no caso do 1º e "Em segundo lugar..." no caso do 2º parágrafo. Não é necessário, tampouco recomendado, que se escreva exatamente "em primeiro lugar..." na redação. É apenas uma forma de seguir uma linha de raciocínio e manter as ideias no lugar.

4. As três caixinhas do desenvolvimento: periférico, tópico frasal e argumentação

O desenvolvimento é o ponto central da sua redação, logo é aqui que você conquistará boa parte de sua nota. Deve ocorrer em dois parágrafos (ou seja, dois blocos). Cada um desses blocos é dividido em três caixinhas (periférico secundário, tópico frasal e argumentação).

Após iniciar seu raciocínio como o "Primeiramente", como dito na dica nº2, comece a escrever o tópico frasal de seu parágrafo. Deve ser curto, duas linhas no máximo e conclua com o ponto final. O Tópico frasal nada mais é do que a ideia central do seu parágrafo, ou seja, coloque de forma argumentativa aquilo sobre o qual esse parágrafo irá tratar. Dessa forma, o corretor não se perderá no texto e procurará no parágrafo argumentos que sustentem o tópico aplicado.

Ex: (Primeiramente...) Na sociedade atual as linhas de pensamento transitam entre o mundo das ideias, pensamentos e debates, além da visão cientificista da realidade.

No exemplo acima, o parágrafo deve argumentar sobre o mundo das ideias e debates. O que o autor da redação quis dizer com isso? Qual é a visão cientificista? O que isso tem a ver com o tema proposto? Enfim... esses questionamentos já demonstram que algum tópico foi colocado à vista do leitor, e suas especificações serão dissertadas durante o parágrafo.

Unido ou não ao tópico frasal pode ocorrer o uso de um segundo periférico, ou seja, uma informação externa que agregará valor ao seu argumento, podendo ser retirado de um filme, livro, fato histórico... Como no primeiro exemplo no tópico 5, em que há a inserção do filme Matrix.

A sua argumentação pode e deve ser bem esquematizada, por isso recomendo que estude métodos de raciocínio, como a dedução, indução e dialética.

5. Relacione o final de um parágrafo com o inicio do parágrafo seguinte.

Esta dica vale para o texto inteiro, mas graças a complexidade disso recomendo que se faça principalmente entre os dois parágrafos de desenvolvimento. Por exemplo, da mesma redação cujo trecho acima foi retirado, o primeiro parágrafo transita para o segundo da seguinte maneira:

(...) Sendo mais vantajoso não se ater à mefísica e a questões filosóficas, que se aproximam do conceito de questões irreplicáveis, como: O que define o real e o irreal?
Como reinterpretado no filme "Matrix", a resposta pode ser aquilo que o cérebro interpreta como resposta sináptica, como a visão, tato e olfato. Entretanto (...)
Um questionamento é uma boa maneira de realizar essa transição e não importa se você faz isso em todas as suas redações, já que examinador lerá apenas uma delas. No entanto, eu recomendo que não as faça, já que essa é uma forma mais simples, mas nem sempre a mais eficaz. Abaixo outro exemplo:

(...) O brasileiro se deparará com a corrupção e a ineficácia do meio político, de ideologias tão diversas às suas, preferindo então não agir, para evitar um conflito ainda maior.
Porém, a passividade tupiniquim não se refere apenas a questão política, mas também às questões econômicas e sociais.(...)

Acima a relação correu via conjunção adversativa ("porém"), ou seja, de modo a antagonizar as duas ideias, sendo essa uma forma eficaz de argumentação.

6. Aquilo que você coloca na introdução deve estar no desenvolvimento

Aqueles tópicos cuja palavra-chave ocorreu durante a introdução devem ser dissertados durante o desenvolvimento. Já que isso contará pontos de coerência, pois qual é sentido de se escrever sobre algo que não se argumentará. No exemplo abaixo, em que é retratada uma introdução, preste atenção nas palavras sublinhadas.

Um país colonizado por portugueses que se tornou independente com a vinda de uma família real fugitiva e malograda e uma república fundada em um inócuo processo elitista que tampouco mexeu nas estruturas sociais. A peculiaridade e heterogeneidade brasileira é indisfarçável, fato refletido na ausência de uma identidade nacional, enquanto uma crise política inibe a cidadania popular.

Pode-se depreender, então, que o texto falará sobre a identidade nacional no Brasil, e os trechos como crise política e cidadania deverão ser abordados nos parágrafos seguintes, muitas vezes a escolhe de dois termos facilita a argumentação, já que no primeiro parágrafo do exemplo pode-se falar da crise política e seus efeitos perante os cidadãos, enquanto no segundo trazer o conceito de cidadania.

7. Você não precisa ser um expert para criar os periféricos

Muitas vezes lemos em redações notas 1000 dos vestibulares conceitos e conteúdo que imaginamos o autor ter ficado horas estudando um tema ou ser uma pessoa de cultura inimaginável. O fato é: conhecimento de mundo é importante, mas você pode demonstrá-lo apenas decorando as ideias centrais de grandes pensadores da história.

O mais importante para um vestibulando é ser curioso, o máximo possível. Se perguntar o motivo das coisas, como acontecem, pesquisar aquilo que normalmente não iríamos atrás. Isso por que pode-se usar de tudo em uma redação. Desde um provérbio ou trecho musical até conceitos teóricos da metafísica moderna. Logo, pesquise todos aqueles termos ou conceitos que você não souber devidamente a resposta.

Outra forma, MUITO eficiente de se adquirir conhecimento é vendo aulas no YouTube e documentários. Pesquise e assista os magníficos vídeos de Clóvis de Barros Filho, Mario Sérgio Cortella, Leandro Karnal, Zygmunt Bauman entre outros professores e filósofos da atualidade, já que estes são repletos de conhecimento, e você cansará de ouvir citações e conceitos que antes não conhecia, então pesquisa, se aprofunde neles e tenho certeza de que serão de grande valia.

8. Eles não esperam que você saiba tudo

Vale lembrar que os examinadores sabem que a grande maioria dos candidatos são alunos de nível médio, ou seja, principalmente no caso do ENEM, eles não esperam uma elaboração grandiosa de argumentos e fatos. Pense sempre no simples. Simples não significa banal ou irrelevante, significa apenas que você esta indo por um caminho pessoalmente seguro.

9. Faça um esboço da redação

Fazer um esboço antes da redação sobre os periféricos que serão utilizados, a linha de raciocionio e argumentação seguidas devem estar nesse esboço. Por exemplo: Se eu falar isso, então posso argumentar aquilo. Este será seu momento de inspiração e abstração pelo tema. No entanto, recomendo não escrever nada completo, apenas ideias. Pois muitas vezes quando escrevemos antes ficamos limitados a esta linha de pensamento, o que não ocorreria em caso de escrita contínua, ou seja, quando você já está escrevendo sua redação e seguindo certas ênfases.

10. Seu maior aliado gramatical são as conjunções

Use e abuse delas. Cada conjunção tem seu objetivo, logo, correlacione seus parágrafos com elas. Busca contradizer algo? Use uma adversativa. Está concluindo sua ideia? Conclusiva. É apenas uma explicação? Explicativa, etc.

11. Crie um título bom e inteligente

Além de escolher o título após o termino do texto, recomendo retirá-lo de algum termo usado durante a redação. Quando isso não for possível deixe a imaginação fluir, pense em algo abstrato ou até mesmo um trecho musical e o parodie. Por exemplo, um possível título para uma redação sobre música seria: "Saudosa musica, música querida", correlacionando-o à canção "Saudosa Maloca" de Adoniran Barbosa.

12. Cada vestibular têm a sua maneira de correção

Posso especificar um pouco mais o ENEM e a Fuvest, já que estas foram as minhas opções. No entanto, recomendo que procure conversar com professores, amigos e até mesmo na internet, informações sobre a redação dos diferentes vestibulares.

No ENEM e na Fuvest a redação sempre será um texto dissertativo-argumentativo, ou seja, vale a pena seguir o padrão dos blocos que traz esse post. No entanto, para vestibulares como o da Unicamp, cujo tema e formato podem mudar muito, recomendo um treinamento mais amplo e geral.

Resumidamente, a Fuvest requer um pouco mais do aluno, seus temas tendem a ser mais complexos e envolver questões sociológicas e filosóficas. Dando dessa forma mais espaço para que argumentação seja desenvolvida de forma mais ampla no quantificação de conhecimentos e específica na qualidade dos mesmos , restringindo menos o estudante. Isso acontece tanto por já ser esse  um perfil de estudante requerido na Universidade, já que ouvir pessoas conversando sobre política ou filosofia nos corredores não é incomum, quanto pelo número de candidatos, que é bem menor do que no Enem, permitindo maior dedicação dos examinadores.

Isso não significa que a redação do Enem é mais fácil, apenas que são estilos diferentes. Uma pessoa pode ser muito boa em questões filosóficas e em argumentação pesada, mas não conseguir atingir a simplicidade requerida no Exame Nacional do Ensino Médio. No Enem você pode ser mais pé no chão e deve aplicar menos conceitos teóricos, seja o mais simples possível e verá resultados.

13. Use o "em que" no lugar do "onde"

 Essa é a melhor forma de na maioria das vezes não errar o uso desse advérbio de lugar. Já que o uso de em que no lugar do 'onde', salvo contrário, sempre é bem-vindo, enquanto o "onde" muitas vezes é empregado de forma errônea, ou seja, sem se referenciar a um lugar.

14. Estruture seu texto

Apesar da rigidez no número de linhas, ou seja, até 4 na introdução, de 10 a 11 em cada parágrafo de desenvolvimento e até 4 na conclusão, pode-se modificar isso (apesar de não recomendado), no entanto, é primordial seguir um padrão. Não comece com uma introdução com 10 parágrafos, seguida por um curto parágrafo de desenvolvimento, pois dessa forma você já deixou claro para o examinador que você desenvolveu na introdução, o que não é aceitável. Da mesma forma com os outros blocos, ou seja, siga uma ordem, não deixe seu texto bagunçado, procure ir até o final da linha e procure fazer uma letra legível e agradável, pois se o examinador não o entender simplesmente irá pular a palavra, não ficará, de maneira alguma, tentando decifrar hieróglifos ou letras incompreensíveis.

15. Conclua seu texto

A conclusão do texto é aquela última impressão que você deixará para o examinador, Então se ele já tinha certeza que sua nota era um 900, agora ela pode até subir. De forma que sua presença é indispensável.

Eu pessoalmente, sempre comecei a conclusão pensando no "portanto", mesmo que muitas vezes não escrevesse ou escrevesse dentro da primeira linha.

Conclua o texto parafraseando os tópicos frasais dos dois parágrafos anteriores, dando tom conclusivo, auxiliado pelo "portanto". E procure fechar com alguma frase ou conclusão que obrigue o leitor a pensar "ufa!" ou "caramba!". Essa é a parte mais difícil e se você não a fizer pontos não serão retirados, mas podem ser acrescentados com certeza.


Espero ter ajudado. Concluí o Curso de Administração na USP em 2021 e fico a disposição para retirar dúvidas sobre o curso e sobre vestibular. Abraço e boa sorte aos vestibulandos que aqui se aventuraram.

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